terça-feira, 6 de maio de 2008

ROSAS PARA VOCÊ

Um senhor, na faixa dos 60 anos,
foi um dia convidado por um colega
de trabalho para a assistir
uma reunião espírita,
que acontecia aos sábados à tarde,
em sua residência paulistana.
Embora relutando porque morava
em Santos, não gostava de sair
da toca e pelo frio daquela tarde
de junho, resolveu ir.
A família até estranhou quando ele
avisou que não iria almoçar e
que viajaria à capital.
Era uma atitude tão incomum...
O expressinho o deixou na porta da casa
e ele chegou atrasado, sentando-se
no fundo da sala para não atrapalhar.
Logo percebeu que se tratava de
um encontro espiritualista sério.
A reunião já estava quase no fim,
quando a senhora que psicografava,
perguntou: - Quem é fulano?.
Ele levou um susto quando ouviu
o seu nome.
- Tenho uma mensagem para o senhor,
ouça: "Rosas para você mamãe,
um beijo. Bebel".
Do susto passou para o aturdimento:
que mensagem seria aquela?
Não conhecia nenhuma Bebel
e nem entendia aquela expressão
cifrada de alguém que enviava
rosas para a mãe.
Mas, evidentemente, recebeu-a com
respeito e guardou no bolso o bilhete
que lhe foi entregue.
Terminada a reunião, saiu rápido,
subindo a Av. Paulista para tomar um táxi
que o levasse até o ponto do ônibus.
De repente, veio à mente uma vontade
enorme de rever um amigo de faculdade
que morava ali numa transversal e
que não via há vinte anos pelo menos.
Que estranho, logo ele que não
costumava visitar ninguém e
tinha pavor de viajar à noite!
Foi um impulso tão forte, tão forte,
que quando percebeu estava à
porta da casa do amigo.
Tocou a campainha e depois
de segundos, o querido
companheiro abriu a porta.
Os anos haviam passado,
os cabelos de ambos eram grisalhos,
as silhuetas se arredondaram e
os olhares aparentavam o cansaço
da caminhada.
Abraços, emoção, trocas habituais
de perguntas sobre outros amigos
comuns, carinho e o convite dele e da
mulher para que ficasse para jantar.
Diante da insistência, cedeu.
À mesa, os papos continuaram
saudosos e queridos.
Há nos encontros com os amigos
de infância e adolescência um rol de
emoções e lembranças que não existe
com as amizades posteriores,
por mais amplas e íntimas que sejam.
Quando sentaram-se à sala novamente
e a esposa pediu licença para
pegar a bandeja do cafezinho,
o anfitrião falou baixo e de voz embargada
- Você não imagina o bem que nos fez
vindo aqui hoje, a Sílvia estava
precisando muito de distração.
Com certeza você não soube que
a nossa filha mais nova, Isabel,
que nós chamávamos de Bebel,
morreu num acidente há um ano.
Era a alegria da casa, já que meus
dois outros filhos vivem fora do País
e só nos visitam de vez em quando.
Mesmo depois de casada,
Bebel continuou morando aqui perto
para nos fazer companhia.
Hoje é aniversário da Sílvia e parece
que ainda estou vendo nossa filha
entrar por essa porta como fazia
todos os anos,
cantando Parabéns a Você e
trazendo um buquet de rosas
vermelhas, as preferidas da mãe.
Tanto é que até comprei as flores que
estão naquele vaso, mas é completamente
diferente, é claro.
Os minutos seguintes foram da
mais forte emoção.
Dele, ao contar quase sem fôlego
o acontecido durante a tarde e
de um pai, que ouvia, chorando,
os desígnios do grande mistério
além do espaço e do tempo.
O mensageiro nem quis esperar
a volta da mãe, com o café.
Preferia não participar do momento
do casal, pedindo ao amigo que
o relatasse; era apenas e
simplesmente o veículo portador.
Ao sair e passar perto da mesa
onde estavam as rosas, tirou o bilhete
do bolso e deixou-o ao lado...
Era o cartão que faltava.

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